Levantamento revela por que desenvolvimento, segurança e bem-estar superam marcas famosas.

Trabalhar deixou de ser um sonho romântico e virou uma decisão estratégica. Para milhões de brasileiros, escolher uma empresa hoje não é mais sobre paixão ou propósito — é sobre segurança, crescimento e qualidade de vida.

Essa mudança de mentalidade aparece com força na 24ª edição da pesquisa “Carreira dos Sonhos”, conduzida pela Cia de Talentos, que ouviu 73.602 pessoas entre 13 de maio e 22 de agosto de 2025. O estudo revela um movimento estrutural: o trabalho deixou de ocupar o centro da identidade das pessoas e passou a ser visto como meio — não mais como fim.

Do “trabalhe com o que ama” ao “trabalhe para viver bem”

Durante anos, o discurso dominante dizia que o trabalho deveria ser fonte de prazer, realização pessoal e propósito. Em 2025, esse ideal perde força.

“Os dados mostram que o trabalho deixou de ser a principal fonte de prazer, identidade e realização e passou a ser um meio, não mais um fim”, afirma Danilca Galdini, sócia-diretora de Pessoas & Cultura e Insights da Cia de Talentos.

Na prática, isso significa que profissionais passaram a enxergar o emprego como um instrumento para garantir:

  • Estabilidade financeira

  • Bem-estar

  • Flexibilidade

  • Tempo e autonomia para buscar prazer fora do trabalho

O foco agora é trabalhar de forma sustentável para viver bem, e não mais “amar o trabalho a qualquer custo”.

Estabilidade continua no topo — mas com outro significado

A palavra “estabilidade” aparece como desejo transversal entre jovens, profissionais experientes e lideranças. Mas ela mudou de sentido.

Hoje, estabilidade não significa mais um emprego para a vida toda. Segundo a pesquisa, ela está associada a:

  • Segurança financeira

  • Previsibilidade

  • Oportunidade contínua de aprendizado

  • Empregabilidade no médio e longo prazo

“A estagnação profissional passou a ser vista como uma forma de instabilidade”, explica Galdini.

Ou seja: ficar parado virou risco.

Desenvolvimento é o critério nº 1 para escolher uma empresa

Entre todos os fatores analisados, desenvolvimento profissional aparece como o principal motivo de escolha de uma empresa — e não é de hoje.

  • São 15 anos consecutivos liderando entre jovens

  • Em 2025, também ficou em 1º lugar entre média e alta liderança

O que pesa na decisão?

  • Programas de estágio e trainee estruturados

  • Trilhas de carreira claras

  • Certificações e capacitação prática

  • Educação conectada à progressão profissional

“Desenvolvimento não é discurso, é critério”, resume a executiva.

Para quem busca trabalho, a mensagem é direta: empresa boa é aquela que ajuda você a continuar empregável.

Salário e benefícios voltam a ganhar peso

Remuneração e benefícios reaparecem entre os três principais fatores de escolha na maioria das empresas analisadas. O motivo está ligado ao contexto recente.

Durante a pandemia, especialmente os jovens:

  • Viram familiares perderem emprego

  • Sentiram a renda encolher

  • Vivenciaram insegurança econômica real

Isso aumentou a aversão ao risco e reforçou a busca por segurança.

“O trabalho voltou a ser, antes de tudo, segurança e sobrevivência”, afirma Galdini.

Ainda assim, o estudo aponta um alerta importante: salário sozinho não sustenta engajamento. Ele precisa vir acompanhado de desenvolvimento e condições saudáveis de trabalho.

Flexibilidade chega a setores tradicionais

Outro sinal da mudança no mercado é a adoção de políticas flexíveis por empresas historicamente rígidas. Um exemplo citado no levantamento é o Banco do Brasil, único do Top 10 em que a flexibilidade aparece entre os fatores mais valorizados.

Modelos híbridos, horários flexíveis e benefícios focados em bem-estar passaram a ser vistos como vantagem competitiva, especialmente entre profissionais mais jovens.

Não existe mais “a” empresa dos sonhos

Uma das conclusões mais relevantes do estudo é o fim da ideia de um único modelo ideal de empregador.

“Não existe mais a empresa dos sonhos. Existem empresas para sonhos diferentes”, resume Galdini.

Esse cenário abre espaço para que pequenas e médias empresas disputem talentos com grandes marcas ao valorizar atributos como:

  • Cultura organizacional

  • Autonomia

  • Impacto real

  • Velocidade de crescimento

  • Coerência entre discurso e prática

O que define a empresa mais desejada em 2025

Segundo a pesquisa, a empresa mais procurada pelos brasileiros hoje é aquela que consegue equilibrar:

  • Desenvolvimento concreto

  • Estabilidade financeira e emocional

  • Reconhecimento tangível

  • Cultura coerente e práticas reais

  • Respeito ao bem-estar

Marcas fortes e nomes conhecidos continuam relevantes, mas perdem força quando não entregam crescimento e proteção à saúde mental.

O conceito que resume essa virada é claro: “life antes do login” — a vida voltou a ocupar o espaço que antes era dominado pelo trabalho.